quarta-feira, 17 de março de 2010

A revolução vem sobre duas rodas (Relatos sobre atividades contraculturais em Curitiba)

Fotos da bicicletada em CWB


A bicicleta é a grande carruagem da contracultura, não há como negar. Por isso escolhi este título. Depois da Guarda do Embaú peguei uma carona e fui para Curitiba, já fazia algum tempo que queria conhecer o pessoal da Bicicletada de lá, porque particularmente sempre me interessei pelo perfil mais “lado B” que elxs apresentam. Acabei encontrando um instrutor de Yoga, de voz serena, ampla filosofia e muitas idéias revolucionárias.
Aos poucos foi me contando de como estavam as atividades por lá. Tive conhecimento de muitas ações positivas feita pela galera que movimenta a bicicletada de Curitiba, além é claro o de promover a bicicletada todo o ultimo sábado do mês há mais de três anos. Entre essas atividades me contou da polêmica ciclofaixa, quando no dia mundial sem Carro (22/09) de 2007, por volta de 50 pessoas participaram da pintura de uma faixa de pouco mais de 1,5 m de largura por algumas quadras da rua onde inclusive se localiza a Escola de Yoga e o coletivo de Arte Independente Interlux. Foi uma ação de intervenção na rua sem esperar “providências” do governo, então o governo resolveu punir os ativistas por crime ambiental (pixação) no mínimo irônico, não? O pessoal teve de organizar eventos beneficentes para arrecadar a grana e não foder com os três indiciados que pagaram de bode expiatório.
Pintura da ciclofaixa
Ciclofaixa e bicicleta ke arranjei emprestada
Outra experiência que achei interessante, foi a jardinagem libertária onde uma galera sái de bike e planta mudas de arvores pelas ruas do bairro, houve até a ativação de um terreno baldio, o espaço foi limpo e organizado, folhagem e flores foram plantadas, graffiteiros deram um toque de arte de rua no local, o antigo terreno abandonado virou lugar de lazer, recreação e reflexão para a comunidade, sendo batizado de Praça Pirata. Hoje a Praça não existe mais, devido aos olhos grandes do dono do lugar que se assustou quando viu “sua propriedade” servindo como algo útil ao invés de ser depósito de lixo, e decidiu trancar o lugar, só mais uma prova de que na vida em grandes cidades tudo é temporário e passageiro, mas o importante é nunca se entregar e resistir sempre, agindo sobre a realidade que sempre muda, um dia mudará em nosso favor.
Ainda tive tempo de ouvir oura histórias, com o plano das bicicletas brancas (uma campanha para arrecadar bicicletas em desuso, e distribuir a quem não tem), música para sair da bolha (músicos tocam em meio ao tráfego na hora do rush), arte bicicleta e mobilidade (o mês de setembro todo é feito atividades de recuperação dos espaços públicos), mas se você quiser saber com mais detalhes acesse: http://artebicicletamobilidade.wordpress.com/, http://bicicletadacuritiba.wordpress.com/ e http://transportehumano.wordpress.com/.
Depois de nossa conversa fui convidado a fazer uma prática de Yoga, e peguei uma bike emprestada. De bike pude conferir de perto a realidade da Cidade que se chama de modelo. Muitas favelas (claro, nem comparar com o que eu iria me deparar no Rio) longe do Centro que a propaganda não mostra, no trânsito o caos esperado para uma cidade grande, o lugar mais seguro para se andar de bicicleta é justamente onde se é proibido andar de bicicleta, que é pela canaleta do ônibus, parte da calçada é asfaltada para que se tenha a impressão de que existe uma ciclovia ali, e chamam de travessia compartilhada, mas é impossível andar por ali, pois o trafego de pedestre é muito intenso. Natureza só é visto no Jardim Botânico, e o sistema de transporte por ônibus, que parece ter saído de algum filme futurista de ficção científica, é realmente bem organizado e se torna possível percorrer quase que toda a Curitiba com apenas uma passagem, porém é um sistema extremamente alienante, onde as pessoas robotizadas quase se espancam no entra e sái dos tubos.
Tive outras experiências boas nessa cidade, com pessoas da hora, que lutam e assumem o compromisso de manter viva a cultura de resistência, anti-racista, anti-autoritária... Depois de 12 dias dei um tchau para Curitiba, deixando novxs amigxs e muita consideração por eles.
Fotos da frente e do interior da Escola de Yoga Ghovardana


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